Além das ‘janelas’ haveria esperança?

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*Célio Campos

Adoro ‘falar’ de futebol por colocar-me perante à língua portuguesa, talvez uma das mais difíceis no planeta. Deve ter encarnado bem a epopeia decorrente do episódio bíblico denominado Torre de Babel, onde os homens queriam erigir um monumento e alcançar a dimensão destinada ao reino divino. Aí, a confusão das línguas se manifestou pela primeira vez e segue em querer entender dialetos mundo a fora virou realidade incessante.

Mas voltemos ao tema central da conversa de hoje – a janela. E para dela falarmos é preciso, novamente, recorrer à língua pátria, vez que caminharei numa estrada assinalada pela metáfora mais temida por dirigentes, torcedores e admiradores do bom futebol ultimamente. Janela. Estimando-a quanto ao sinônimo abertura, temos rasgão, furo, vão, frincha, fresta, orifício, fenda, buraco, brecha e por aí vai.

Nesse expediente temos perdido muita gente boa de bola. Dos maiores aos menores clubes. Dos badalados aos mais discretos jogadores, invariavelmente temos perdido talentos nessas janelas de transferência. Sendo sincero, alguns perdem e contratam. Outros repatriam peças que por ‘enes’ motivos não deram certo ao deixar o time de origem. Como diz um amigo meu, “não deram liga na Liga”. Interessante trocadilho.

Convivendo com um inferno astral a fazer inveja à maravilhosa obra “A Divina Comédia”, onde Dante Alighieri estabelece o Inferno como a primeira parte do poema que se consolida com o Purgatório e o Paraíso, na realidade uma viagem alegórica acerca do que é essencialmente o conceito medieval de inferno, guiada pelo poeta Virgílio que descreve o inferno com nove círculos de sofrimento dentro da terra, coincidentemente o SPFC ficou nove jogos sem vencer. Todos recordamos.

E o SPFC, pasmem, foi o time que melhor se valeu da janela.

As saídas de Maicon (Galatasaray-TUR), Luiz Araújo (Lille-FRA), Thiago Mendes (Lille-FRA) e Centurión (Genoa-ITA) – este último ainda acertando contrato – renderam cerca de R$ 109 milhões aos cofres tricolores. Com parte da grana, contratou Aderllan (Valência), Arboleda (Universidad Católica – QUE), Hernanes (Heibei Fortune), Petros (Bétis), Jonatan Gómez (Independiente Santa Fé) e Marcos Guilherme (Dínamo Zagreb). A janela se escancarou ao time do Morumbi que encheu as burras e tornou-se trôpego no Brasileirão, podendo retomar o caminho do equilíbrio.

O Flamengo contratou quatro jogadores e o Palmeiras dois. Sem alardes mas atentos à abertura da tal janela, Vasco, Atlético-MG, Santos, Atlético-PR, Grêmio, Botafogo e Cruzeiro também tiraram os escorpiões dos bolsos e contrataram as chamadas “peças de reposições”. Mais modestos, Avaí (Maurinho – Seoul – COR), Vitória (Santiago Trellez – Deportivo Pasto – COL), Ponte Preta (Luis Alí – Bolíver – BOL), Chapecoense (Fernando Guerrero – LDU e Cristian Penilla – MEX) e Coritiba (Alexander Baumjohann – Hertha Berlim – ALE) igualmente foram às compras.

Nessa frenética movimentação, estranha-me o Corinthians não ter perdido peças tampouco contratado. Como não contrataram também o Bahia, Fluminense, Sport e o Atlético-GO, aliás, o ‘Dragão’ perdeu o seu artilheiro Everaldo ao Querétaro – MEX e não anunciou qualquer reposição.

Janela.

Janelas…

Que ainda poderão patrocinar novidades, vez que  as perdas decorrentes de suas brechas ultrapassam os noticiários mais evidentes. Rossi (Chapecoense) foi para o Shenzen (China), Douglas deixou o Vasco para atuar no Manchester City enquanto Thiago Maia (Santos) fechou com o Lille – FRA, configurando-se no boom das negociações, a mais vultuosa (R$ 51 milhões).

Por fim, para fechar essa conversa sobre janela, é preciso manter-nos atentos. Algumas delas permanecem abertas, estendendo a possibilidade de ‘passar pelo vão’ até outubro: 9/agosto – Estados Unidos; 16/agosto – Japão; 31/agosto – Alemanha, França, Holanda, Inglaterra e Rússia; 1/setembro – Espanha; 5/setembro – México; 22/setembro – Portugal; e 2/outubro – Emirados Árabes.

Por essas e outras, termino o artigo escondido, olhando por uma fresta e com medo de abrir-se um verdadeiro buraco em nossas equipes. E sem que haja o iminente fechamento da janela de oportunidade em escrever novamente por aqui, fica a pergunta posta á mesa, aos debates: Além das “janelas” haveria esperança?

*é jornalista, radialista e mestrando em Comunicação pela Universidade Ibero Americana

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