O sábado cinzento e a (sentida) baixa na equipe

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*CÉLIO CAMPOS

A MPB vez ou outra nos brinda com nomes novos e se capricharmos, ouviremos músicas novas. E boas. Interessantes. Intrínsecas. Fundamentadas. Provocativas. Dignas de reflexão. Que fazem pensar por que as coisas são assim.

Em meio a essas inovações, procurem ouvir “Sábado”, segundo disco do cantor carioca Cícero Rosa Lins. Expectativa grande. Queridinho da Nova MPB, “é o tipo de artista que canta, compõe, toca e produz muito mais com sentimento do que técnica. O que não significa que ele não tenha técnica”, bem avisa a são-paulina Camila Nicolellis que escreve muito bem sobre o assunto.

 Descreve como “Linda. Triste. Reflexiva. Música do Cícero. Cada vez que escuto, gosto um pouco mais dessa faixa. A vantagem de letras curtas é que até já decorei: ‘o destino o tempo inteiro envergando a verdade o tempo inteiro; na verdade o tempo inteiro envergando; a verdade dorme cedo’”.

Imagino que o leitor pergunte: e aí, o que isso tem a ver com a coluna?

Sábado cinzento, 29 de julho, ainda antes das 11h, morria Paulo Braga, vítima de um câncer raro.

Por volta de 1995, era o Diretor Artístico da então rádio Estação FM (hoje Nova Estação FM), com sede em Franco da Rocha, quando passou a “reinar”, revolucionando a ainda “emissora não regulamentada” mas que como tal já operava, cumprindo, de fato, o papel de uma rádio séria como continua sendo. E Paulo Braga criou uma espécie de disputas, gincanas em meio às escolas, desafiando alunos entre si, lembrando o venerável programa que a TV Cultura manteve, há tempos, sob o comando do imortal Randal Juliano, intitulado “Quem sabe, sabe”.

O tempo passou, o programa findou, contudo a gana e a capacidade de se reinventar era algo peculiar ao Paulo Braga. Tinha o DNA da comunicação na veia. Ou na voz, sei lá. Mas dominava isso com propriedade e maestria a fazer inveja – e escola – para muita gente que nele se inspirou.

Em 2004, trabalhamos de forma mais aproximada, quando cada qual, cumprindo a sua cota de responsabilidade em meio à uma campanha eleitoral, elegemos um candidato a prefeito. Paulo Braga ficou com a secretaria de Cultura; a mim coube a Comunicação. E desde então nossas falas e encontros se deram de uma forma mais frequentes. E diretas.

Em 2007, começamos um projeto ousado, capitaneado pelo jornalista Celso Monteiro, então diretor da rádio Estação FM – já regulamentada -, em implantar transmissões de futebol na grade de programação. Foi aí que novamente Paulo Braga se apresentou, destacando que se fosse por falta de narrador que o sonho corresse risco de naufragar, contasse com ele na função até que surgissem os profissionais da área. E ele narrou alguns jogos, preliminarmente. E muito bem narrados. Um deles, inclusive, no inesquecível Parque Antárctica.

Depois, surgiram narradores como Mauro Aguiar, Edson Carlos, Léo Miranda e diversas outras legendas que todos temos tido oportunidade de tratar. Mas o Paulo Braga foi, como narrador “prata-da-casa”, o primeiro a empunhar os microfones da hoje Equipe Gol de Placa – vice-campeã perante a Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp).

Os mandatos acabaram, segui o meu caminho e o Paulo Braga fez o mesmo.

Mais tarde, tornaria ainda secretário, defendendo a pasta costumeira (Cultura) nas cidades de Francisco Morato e Mairiporã. Sempre ampliando a visão, fazendo diferença para melhor e revolucionando o que se lhe apresentava como desafio. Era um foco coletivo, plural. Sério e competente. Promovia eventos, escrevia, palestrava. Tentou se tornar vereador mas não emplacou votos suficientes para fazê-lo membro do parlamento paulistano.

Paulo Braga era autêntico.

Primava pela verdade.

Morreu, “dormiu” cedo, antes das 11h, num sábado cinza, 29 de julho, aos 59 anos.

Como diz a música de Cícero, “a verdade dorme cedo’”.

Descanse, meu amigo!

*é jornalista, radialista e mestrando em Comunicação pela Universidade Ibero Americana

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