*CÉLIO CAMPOS
A bola vai rolar.
Diversos são os temas que se debatem, e às vezes, alguns rezam pela cartilha do quanto pior melhor, enxergando na simples extinção dos regionais como que sendo a panaceia para livrar o futebol de todos os males que se qualifica como vítima.
Ledo engano.
Racionalizar calendários não é extinguir campeonatos. Não dá para ignorar a importância que os certames regionais tem para com o colorido do futebol nacional, em meio ao país que respira bola. A criança nasce e o presentinho mais imediato que recebe é uma bola.
Produto de consumo mundial, o futebol suscita pautas polêmicas, como a eterna luta pelo fim do machismo, a homofobia, respeito ao futebol feminino, a elitização, monopólio midiático onde se cobrem os “grandes” em detrimento aos “pequenos” e a conversa é longa. Sim, temos de debater. Melhorar o futebol e seu entorno.
Sabemos que o Brasil é um país continental. Os chamados “grandes” clubes tem competições o ano inteiro, mas e as pequenas equipes? Disputam o regional e termina o ano esportivo. E querer que esse único evento seja deletado do calendário nacional é de um tremendo mau gosto. Como é de péssimo gosto cravar que os regionais não servem pra nada.
Não vou entrar no mérito dos certames europeus, vez não serem comparativos e seria um autêntico ignorante desprezando a questão econômica abismal envolvida e a história da própria formação local do futebol quando estabelecido tal comparativo.
Não podemos desenraizar o futebol do elemento que constituiu a forte ligação do povo com o esporte mais popular do planeta.
A história dos estaduais remonta ao início do século XX, não por coincidência o mesmo período em que as ligas nacionais europeias se formaram também. E com isso, a reboque temos a história dos clubes, suas rivalidades e identidades. Um país com a diversidade do futebol brasileiro, escreve páginas ricas da história do nosso esporte, como os memoráveis embates envolvendo Fortaleza e Ceará, Sergipe e Confiança, Remo e Paysandu (a ilustração do artigo é o estádio Mangueirão), Portuguesa e Juventus, América x Bangu e muitos outros.
Muitas vezes, dentre os contrários aos estaduais, um outro argumento aparece, o de que os “clubes grandes” poderiam disputar apenas a fase final dos torneios de seus estados, e os “pequenos” poderiam dessa forma jogar o ano todo entre eles mesmos. Acontece que historicamente o que fez com que clubes de cidades do interior, por exemplo, montassem times competitivos, foi justamente a chance de enfrentar durante boa parte do ano os clubes de maior exposição na mídia.
E o que acontece quando se aposta em um modelo de estaduais enfraquecidos como agora? Os clubes do interior ou de capitais de regiões mais pobres do país não conseguem, por exemplo, patrocinadores e cotas de TV justas para disputar e igual para igual contra os hegemônicos e com isso revelam menos jogadores.
O futebol precisa inicialmente ser compreendido como produto de identidade regional. Eu não me sinto à vontade em ver um garoto nascido em Bauru, por exemplo, ostentando uma camisa do Real, do Barça mas que não sabe nem as cores do Noroeste, time local. É um dos inúmeros exemplos a serem observados.
Acredito ainda dar tempo para resgatar o verdadeiro espírito de torcedor, incentivando os torneios regionais.
Vivam!
Estão começando.
Todo recomeço merece respeito.
Boa sorte.
*é jornalista, radialista e mestrando em Comunicação (celiomidi@gmail.com)