Coluna de Célio Campos: Quantos Doni temos no futebol?

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*CÉLIO CAMPOS

Se você é “do meio”, rapidamente acionará a memoria e dirá – Doni? Bem, eu sei de um Doni que despontou no Botafogo-SP em 2001, foi contratado pelo Corinthians, ganhou visibilidade maior, foi negociado, jogou no Santos, Cruzeiro, Juventude e foi ao Roma-ITA. Se no Brasil sendo foi perseguido, na Itália foi reconhecido e ventilou-se, inclusive, que se tornasse italiano, caso Dunga não o convocasse para a Seleção. Na “canarinho”, foi campeão da Copa América em 2007.

Parabéns, se percorreu essa linha de raciocínio, sinal que andas antenado conquanto às coisas do futebol. Mas se não associou, apenas acompanhe a linha do raciocínio proposta.

Quantos Doni temos no futebol?

Ocorre que a quantidade numérica aqui é o que menos interessa. Importante, sim, é analisar a metáfora (abreviação comparada) que o texto transporta.

No Paraná, tem um outro Doni. Também goleiro. Do Iraty, tem 25 anos e nasceu na mesma cidade em que nascera Alex Muralha, outro goleiro – este do Flamengo. Submeteu-se a testes em times como SPFC, Atlético-PR, passou por clubes do centro-oeste, Minas e retornou ao Paraná onde trabalha num centro de reciclagem de lixo e depois vai treinar. Por pouco não acessou à Primeirona paranaense.

Seu salário? R$ 1.000,00/mês. E está atrasado. Trabalha na reciclagem para complementar a renda familiar. Pior. Os salários no Iraty estão atrasados.

Diante dessa realidade, vem a pergunta: quantos Doni temos no futebol? Imagino que inúmeros, centenas, milhares até. A falsa ideia que jogadores ganham muito predomina, prevalece e ganha adeptos, formando uma multidão de desinformados. Inclusive cronistas que não medem palavras ou mesmo tinta para passar uma falsa informação. Atletas “de ponta”, jogando na série A, Europa até ganham bem. Mas no universo da ‘pátria de chuteiras’, esses números proporcionalmente são ínfimos.

Quantos Doni temos no futebol?

Enquanto assistirmos cartolas se curvando aos interesses de grupos que monopolizam o mais popular de todos os esportes, aumentando o valor dos ingressos aos jogos, órgãos cerceando o trabalho do rádio que sempre ajudou a popularizar o futebol como produto de consumo mundial, estaremos fazendo direitinho a lição que nos levará à falência do produto e de seus subprodutos. E não nos enganemos: estaremos parindo vários Doni para o mundo fantasioso do futebol.

O primeiro Doni jogou depois no Liverpool, quando descobriu-se uma anomalia coronária, levando-o, inclusive, a uma parada cardiorrespiratória que durou intermináveis 25 segundos. Foi aconselhado e deixou o futebol definitivamente em 2013.

Já o segundo, continua trabalhando com lixo e torcendo para que a temporada 2018 comece para só então voltar a trabalhar em dois períodos, alimentando um sonho que jamais morrerá – ser um jogador iluminado, ainda que aos moldes do que fora o seu xará que pendurou as luvas precocemente.

Mais realidade e profissionalismo. Menos “Doni’s” no futebol. Do goleiro ao ponta-esquerda.

*é jornalista, radialista e mestrando em Comunicação pela Universidade Ibero Americana

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