‘Fui forçado a deixar minha terra’, diz venezuelano da Copa dos Refugiados

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O Lançamento da Etapa São Paulo da Copa dos Refugiados 2018 reuniu pessoas de diferentes nações e continentes no Auditório A do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP). Dentro do mesmo espaço, histórias distintas se cruzaram, mas com uma similaridade atenuante: a busca por uma melhor condição de vida.

Em meio aos representantes africanos e do Oriente Médio, outras duas seleções chamavam atenção. No caso, os refugiados sul-coreanos e venezuelanos. Alejandro Gerardo, 33, está no Brasil há seis meses e saiu do país Sul-Americano para fugir da ditadura instaurada por lá. Recentemente, a cidade de Pacaraima ganhou destaque no noticiário geral por seus moradores terem expulsado refugiados de volta para a Venezuela. A gota d’água para a mobilização teria sido um assalto cometido a um comerciante da região.

Alejandro esperava familiares que viriam a partir da cidade no norte do País. O venezuelano era professor de futebol voluntário em uma ONG que, segundo ele mesmo afirma, tirou cerca de 500 crianças e adolescentes das ruas e do convívio com as drogas por meio do esporte. Sua atuação teria sido o motivo de perseguição por bandidos e parte do governo.  “Fui forçado a deixar minha terra. Agora estou sozinho aqui, mas mês que vem virá um dos meus dois filhos”, revela. Seus filhos têm 18 e 13 anos.

Acerca do campeonato, o venezuelano garante que a equipe sul-americana vencerá, ainda que sejam estreantes na competição. Para ele, o futebol é uma ferramenta que ajuda a passar pelos acontecimentos tristes de sua história. “Nos faz esquecer um pouco a nossa tragédia”, comenta.

Enquanto a cerimônia rolava, Nunes Rafael, 23, aproveitou para tirar uma foto dos uniformes do campeonato dobrados e expostos sobre a mesa. Nunes é refugiado da República Democrática do Congo e defenderá as cores do seu país na etapa que começará nesse sábado, 25. O jovem congolês, torcedor do Corinthians desde que morava na Angola, só vê pontos positivos na competição.

“Eu acho que é uma boa iniciativa, visto que o futebol é um esporte que une todas as nações. Acho que é muito importante porque faz com que encontremos pessoas de outras nacionalidades, e o apoio da Secretaria é uma boa iniciativa”, diz. A Copa dos Refugiados é organizada pela ONG África do Coração e conta com o apoio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME) e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

O campeonato chamou a atenção de alunos da oitava série de uma escola da zona sul de São Paulo. Fernando, Caio, Thiago, Renato, Maurício e Gustavo estão produzindo um trabalho sobre solidariedade e conheceram Abdulbaset Jarour, vice-presidente da África do Coração, em uma palestra.

Caio Russo, de apenas 14 anos, confessa que tinha um pouco de preconceito com refugiados antes de fazer o documentário proposto pela escola, mas que mudou sua visão ao ter contato com as pessoas. “Falta muita informação para quem é preconceituoso”, afirma. Na sequência, Fernando Henrique, também com 14 anos, completa a frase do colega. “Muita gente julga, mas julga sem saber o que fala”.

As partidas da Etapa São Paulo da Copa dos Refugiados começam nesse sábado, 25, a partir das 8h, no Centro Esportivo Jardim São Paulo, que fica na Rua Viri, nº 425, Jardim São Paulo. Os duelos serão entre Marrocos e Togo; Niger e Iraque; Síria e Líbano; Camarões e Angola; Coreia do Sul e Venezuela; Mali e Nigéria; Senegal e Gâmbia; e, fechando a rodada, o Congo enfrenta a Guiné Bissau.

Os vencedores de cada partida avançam para as quartas de final que acontece no dia 26, às 8h, no Estádio Jack Marin, no Parque da Aclimação. Já no dia 1º de setembro, acontecem as semifinais e as disputas de 3º e 4º lugar. Os jogos serão realizados no Centro Esportivo Vila Manchester, na Praça Haroldo Daltro, s/n – Vila Nova Manchester. A grande final será realizada no dia 2 de setembro no Estádio do Canindé.

Texto: Guilherme Guidetti
Foto: Laís Oliveira

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